sábado, 7 de setembro de 2013

Educação para a cultura



Antes era tudo diferente. Todo mundo vivia no rio, brincava no rio, tomava banho no rio. O rio era o máximo. Agora o movimento é lá em cima. Os barzinhos também estão lá em cima, na beira do asfalto. Hoje, o asfalto é o máximo. Todo mundo vai para o barzinho olhar para o asfalto. E o rio, o velho rio, o Velho Chico, fica lá embaixo.

Foto: André Fossati

Enquanto Ludmila rememorava os tempos de infância, o salão se enchia de cores. Parecia que ela contava as lembranças desde a beira do rio, com os pés na água.

Das lembranças que povoam a memória de Ludmila, as melhores são as dos festejos da cidade. Congado, Batuque, São Gonçalo. "Eu participava muito quando era criança. Fui morar em Belo Horizonte aos 10 anos, mas sempre voltava nos feriados. Eu adorava", confirma. Tanto, que ela foi para Londres fazer um MBA na área da cultura. "As  pessoas pensam que eu faço essas coisas porque fui morar em Londres. Mas eu não passei a gostar porque estudei, eu estudei porque gostava", explica. Não por menos, ela se tornou a Secretária de Cultura da Cidade.

E Ludmila chegou querendo mudar as coisas. O projeto de Educação Patrimonial começa em setembro. A cadeia da cidade vai virar museu e escola de danças folclóricas. O Batuque, o Bumba-meu-boi e o São Gonçalo vão voltar. A banda centenária da cidade foi reativada.

Os problemas atuais não são de incentivo, são financeiros. "Antigamente os grupos tocavam, dançavam e formavam alunos gratuitamente. Mas agora, sem apoio, ninguém toca. Esse não deveria ser o objetivo principal. Cultura não combina com dinheiro." A luta de Ludmila é para que, com o tempo, a cultura volte a fazer parte de São Romão e a vontade de contribuir venha de maneira espontânea.

Foto: André Fossati

A secretária também conta com incentivo externo. Mas são poucos os projetos que vem de fora. O Cinema no Rio é o único na área de cinema. Esse ano o projeto levou os filmes Rio e Vou rifar meu coração, além do curta O fim do recreio. "O Cinema no Rio é muito interessante para as crianças. Inclusive o fato de ver filmes brasileiros, ao invés da programação estrangeira que tem na televisão", opina. Para Ludmila, os filmes brasileiros ajudam as crianças a compreenderem o contexto em que vivem e também a conhecerem uma nova forma de interagir com ele. Com o tempo, as crianças de São Romão também poderão contar suas histórias, com os pés na beira do rio.

Por Juliana Afonso

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