quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Para onde soprar o vento



“Qual a cultura de Barra do Parateca?” “Cultura? Como assim?”, respondeu o amigo. “É essas coisas, Cavalhada. Sei lá, o esporte”. “Ah! Entendi... esporte... aqui tem muita coisa: cavalhada e jogo de futebol . Durante a pre- produção do projeto cinema no rio, encontramos Alex de 22 anos logo na entrada do distrito. Da janela do carro: Inácio grita: “Você sabe onde a Paixão mora?”. Alex responde: “Eu vou lá com vocês”. Decidido e sem receio dos forasteiros munidos de um Fiat cheio de equipamento de filmagem, Alex nos acompanhou. Mais que indicar caminhos, Inácio fez logo a proposta. “Trabalha com a gente hoje. Vou te ensinar a fazer o som do filme”. Um pouco assustado com aquele microfone gigante, rapidinho foi pegando o jeito. “Tá baixo, microfone vazando, vamos fazer um travelling agora. Foram vários termos estranhos, mas Alex não perguntou o significado de nenhum. Foi aprendendo com a experiência.


Filmando um buteco da cidade, Inácio propôs outro desafio: “Agora é você quem vai entrevistar os seus amigos”, disse para Alex. Com aquela risadinha ele respondeu: “Mas moço eu nunca fiz isso não”. Inácio fingiu que não ouviu e ficou olhando até Alex tomar alguma atitude. Dois jovens tomavam cerveja no bar e Alex começou a entrevista falando de cultura, coisa tão complexa.

Mudando os rumos

Barra do Parateca é comunidade quilombola reconhecida pela Fundação Palmares desde 2005. Alguns continuam lutando pelos seus direitos. Lutando literalmente com os fazendeiros pela demarcação das propriedades do quilombo. Tentaram deter a posse de terra pelos quilombolas. Ônibus queimado na chegada do distrito, a primeira marca de retaliação da comunidade. Mas muita gente evita falar do assunto, principalmente os idosos que quando perguntados sobre a situação: “Sei não moço, diz que aqui tem um tal de quilombo”.

Alex também parece não compreender muito bem o dilema por que passa a comunidade. Inquieto, diz querer viver em outro lugar. Nesse pequeno distrito, a vida corre lenta. Os cachorros dormem no meio da rua e nem se levantam com o carro que passa. As crianças são curiosas, as casas ficam coladinhas uma na outra. O chão é de terra batida. Alex já morou uns tempos em São Paulo e diz ter adorado a experiência. “Quer trabalhar na equipe do projeto Cinema no rio. Ir para Belo Horizonte e depois seguir o São Francisco?”, perguntou Inácio. “Vai lá e pode arrumar as malas”. “Minhas malas já estão prontas”, respondeu Alex. E assim, foi. Alex juntou as malas e viajou com a gente. Filmou outras cidades e seguiu para Belo Horizonte trabalhar com a equipe da técnica.

Alex não falava muito. Mas também, ainda não teve tempo de digerir tanta mudança. Ele que estava de partida para Bom Jesus da Lapa, teve que mudar os rumos. Viver um pouco dos bastidores e da pesada rotina que é brincar de fazer cinema.

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